Estive em Itacaré, no feriado de Páscoa, e visitei a Fazenda Vila Rosa para aprender um pouco mais sobre o ciclo do cacau. O belo casarão cor-de-rosa é sede de uma fazenda cacaueira. A propriedade fica a 20 quilômetros do centro da cidade de Itacaré e às margens do Rio de Contas. O passeio guiado começa com uma caminhada pela Mata Atlântica para ver a plantação e provar duas variedades de cacau. Na metade do passeio, aprendi sobre os processos de fermentação das amêndoas e de secagem nas barcaças. E, no final, a tão esperada visita à fábrica de chocolates e degustação dos vários tipos de produtos produzidos ali.

Um dos pontos, que me chamou bastante a atenção, foi a explicação do guia sobre a doença conhecida como vassoura-de-bruxa. Causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, esta enfermidade foi o motivo da maior crise já ocorrida na cacauicultura brasileira, pois provoca deformação, apodrecimento e morte nas partes afetadas dos cacaueiros, que adquirem a aparência de vassouras velhas – daí o nome que lhe foi dado.

E como gosto de aprender sobre os lugares que visito, fui entender um pouco mais sobre o fungo e a razão do surgimento do mesmo. Endêmico na região amazônica, o fungo, conhecido pelo nome popular vassoura-de-bruxa, propagou-se pelo sul da Bahia em 1989. Como decorrência, o Brasil, que chegou a ser o segundo maior produtor mundial, com safras de mais de 400 mil toneladas de cacau em meados da década de 1980, teve sua produção reduzida para cerca de 100 mil toneladas na década de 2000.

Mas você deve estar se perguntando, o que esta história tem a ver com Transformação Digital e agricultura 4.0?

Durante o passeio, eu fiz uma pergunta para o guia se a fazenda ou, na região, se as fazendas usavam Inteligência Artificial para analisar o fungo causador da enfermidade e a resposta foi negativa. Eu citei que existem casos muitos bons no Agronegócio brasileiro como o combate da ferrugem na soja. A severidade da doença é determinada pela coloração das folhas e com base em pixels, através de uma imagem digital, é possível fornecer dados suficientes para que um algoritmo de IA consiga determinar, com até 93% de precisão, a severidade da doença e ajudar no combate da doença.

Ou seja, a presença da tecnologia e da inteligência artificial em específico no agronegócio, originam um novo conceito de agricultura, a Agricultura 4.0 que tem como objetivo tornar possível a otimização da produção e gestão agrícola em diferentes etapas e estágios, do plantio à colheita. Para isso, apropria-se do uso de diversas tecnologias de ponta, como softwares, sensores, maquinários e data science para melhorar o controle, monitoramento e tomada de decisões.

Dentre as tecnologias empregadas na Agricultura 4.0 estão:

·     Drones

·     Telemetria (Monitoramento à distância)

·     Biotecnologia

·     Análise de Clima preditiva

·     Internet das coisas (IOT)

Das análises de solo para a plantação até a colheita da safra, com tomada de decisão rápidas frente a problemas, a Inteligência Artificial está presente em uma série de aplicações.

Por esta razão, eu sempre digo que é um estado perpétuo de transição e é preciso estar atento às mudanças, aos avanços tecnológicos e transformar seu negócio, independente da indústria. Já pensou que durante uma degustação de chocolate numa fazenda na Bahia, seu concorrente pode estar a frente usando tecnologia para prevenir a doença e transformando a maneira deste cacau chegar mais rápido ao mercado consumidor?